sábado, 19 de julho de 2008

A PEQUENINA BORBOLETA BRANCA


Como resultado de uma conversa proveitosa que tive com três distintas Senhoras numa manhã de Domingo em um ambiente cultural deveras acolhedor, ficou-me guardado na memória um acontecimento que me foi narrado por uma delas e que, por ser verdadeiro e significativo, será assunto desta nossa narração.

A natureza fala e que ninguém se engane! É a CULTURA RACIONAL dos Livros UNIVERSO EM DESENCANTO que nos ensina! DEUS utiliza-se de animais e pássaros para servir de sinais ao ser humano!

Nessa nossa história, escrita ao nosso modo e dando aos personagens outros nomes, o leitor vai sentir na singeleza de uma borboleta o poder de singularíssima comunicação.

Rita e Ana, ambas eram amigas, colegas de turma na Universidade e vizinhas e tinham a mesma idade: dezoito primaveras.

Às 16 horas de um dia de Sábado. Ana estava deitada em seu quarto descansando, quando Rita chegou e convidou-a para ir a uma festa com ela em bairro próximo.

Ana, embora estivesse cansada precisando repousar, preferiu atender a amiga, aprontou-se e juntas saíram para a festa.

Os momentos vividos na festa foram alegres como sói de acontecer geralmente, sem maiores novidades.

No retorno da festa para casa, Rita e Ana dirigiram-se a uma parada de transporte coletivo e enquanto esperavam o ônibus na calçada, surgiu como que do inesperado, um automóvel deslocando-se em alta velocidade, guiado por um jovem alcoolizado que se divertia fazendo oscilações rápidas, curtas e alternadas na direção, movimentando o caro ora para a direita, ora para a esquerda, até que, num dado momento, perdendo o controle do volante, subiu à calçada e atropelou Ana, que veio a falecer poucos momentos depois.

Rita, nos primeiros instantes, desesperada com que acontecera e querendo salvar a amiga, tomou todas as providências de socorros necessárias, mas depois, diante do inevitável, da morte, entrou em estado de choque...

Rita houvera perdido a sua maior amiga!... Verdadeira irmã!...E agora?!... Não, não podia ser verdade, Rita não podia acreditar... Estaria ela vivendo um pesadelo?!... Não, não era um pesadelo, a sua amiga jazia morta e ela era a única culpada... Fora Rita que insistira com Ana para acompanhá-la à festa. E Ana só aceitara o convite para atendê-la. Oh! Que terrível remorso! E agora, o que fazer e como se explicar e se justificar perante os familiares de Ana?!...

A notícia da tragédia chegou à família de Ana com um impacto arrasador de emoções. Dores imensas foram externadas em lágrimas e soluços angustiantes e inconsoláveis associadas a uma mágoa de condenação que se agigantava cada vez mais apontando Rita como a grande culpada e responsável pela morte de Ana.

Dentre os familiares, a avó de Ana era a mais rancorosa contra Rita, não lhe poupando acusações sérias e graves que lhe fez ver até durante o sepultamento, embora esta estivesse sentindo grandes dores e se mostrasse arrasada, em desespero.

O sentimento de culpa de Rita, gerado pela morte de Ana e agravado pela condenação que lhe era movida pela avó e a família de Ana, aumentava mais ainda o seu remorso, piorando o seu estado de saúde, que se acentuava dia após dia, num choro seguido que só parava por poucos segundos para recomeçar depois com uma mais forte intensidade, terminando por levá-la a um estado doentio perigoso.

Amigos em contato com familiares de Rita providenciaram, então, a sua internação num quarto de um hospital.

Internada, Rita só chorava e chorava... Uma crise nervosa e de remorso comandavam o processo doentio do choro...

Os tratamentos médicos e psicológicos a que Rita vinha se submetendo, apresentavam-se como ineficazes para subtrair o remorso de Rita e proporcionar-lhe a cura.

Rita continuava no leito do hospital, chorando sempre; parecendo nunca poder esgotar o manancial de água contido no seu organismo, que transbordava através de suas lágrimas. O seu rosto sempre estava molhado, seus olhos úmidos e as lágrimas sempre rolando pelas faces que já não tinham a coloração rósea original.

Assim se encontrava Rita no hospital, quando em determinado dia de domingo, entra no seu quarto, pela janela, esvoaçando, uma pequenina borboleta branca, que termina por pousar no seu travesseiro.

Rita, contudo, só chorava sem se dar conta daquela borboleta. A enfermeira acompanhante, que tudo observara, querendo consolá-la, aproximou-se dela e falou-lhe:

- Rita, veja que linda borboleta pousou no seu travesseiro!
Rita levantou um pouco a cabeça e olhou para a borboleta.Nesse instante a borboleta bateu ligeiramente as asas, esvoaçou pelo quarto, e voltando em direção a Rita, pousou, desta feita, no seu rosto e inclinou-se sobre ele duas vezes, como se estivesse a beijá-lo, junto às lágrimas que rolavam.

Após esse acontecimento, que despertou a sua mente para a reflexão e lhe trouxe alívio e um bem estar desconhecido, Rita parou de chorar, para retornar a fazê-lo uma meia hora depois.
Passado mais uns quinze minutos, Rita foi surpreendida pela visita da família de Ana.
- Não, não pode ser, pensou Rita amedrontada, eles vieram aqui para me acusar mais ainda...
Foi quando, para surpresa de Rita, a Avó de Ana,a sua grande acusadora, achegou-se a ela junto ao travesseiro e disse-lhe:

- Rita, pare de chorar... Perdoe-me pelas minhas acusações à sua pessoa. Você não é culpada, não... Hoje eu sei que você não é culpada da morte da minha neta, sua grande amiga! Não, não é culpada não!... Escute! Ontem à noite, Ana, a minha neta, apareceu-me em sonho, na forma de uma pequenina borboleta branca, dizendo-me que estava escrito no livro do destino que a vida dela estava programada para terminar naquele dia e que eu parasse de acusá-la como culpada porque você - que era das amigas dela, a mais querida – não era culpada da sua morte e, por isso, não se considerasse culpada em cousa alguma e parasse de chorar...

Rita parecia não acreditar e voltando a lucidez, abraçou-se com a Avó de Ana como fizera antes muitas vezes na casa da amiga quando viva e um grande alívio tomou conta do seu ser. Nesse instante, a pequenina Borboleta Branca que estava pousada em algum lugar do quarto, alçou vôo, passou entre as duas que se encontravam abraçadas e sob o olhar de ambas, que a observavam, desapareceu pela janela por onde entrara em direção ao jardim. Desde esse instante, Rita deixou de chorar e retornou à vida normal...

A natureza fala e é capaz de equacionar um problema de consciência - que de outro modo poderia levar anos e nunca alcançar - através de uma pequenina borboleta branca! - RAMEZONI